segunda-feira, 8 de março de 2010

O Carnaval

Os dias do fim-de-semana no hospital passaram a velocidades diferentes. Já tinha recebido muitas visitas antes, e no Sábado voltei a ter mais companhia que, aqui entre nós, confesso, é a coisa de que eu mais gosto! 
A avó Setinha veio visitar-me no dia da operação e fez companhia aos meus pais durante aquelas horas de espera que pareciam nunca mais acabar. O tio Manel trouxe a avó, que precisa sempre de chauffeur, porque não conduz desde uma longínqua tarde de verão... o papá aproveitou que o tio estava cá e voltou a cravar-lhe uns cigarros, que sempre ajudam a passar o tempo e a soltar a conversa...
No dia seguinte veio visitar-me a madrinha, que passou o dia a brincar comigo e com um quadro magnético do Ruca que eu adorei. Os meus pais aproveitaram esse dia e foram ver um apartamento para ficar durante os meses da minha recuperação... era ao pé do Portugal dos Pequenitos, o que para mim parecia ser interessante, e tinha uma vista linda sobre Coimbra...
No dia seguinte veio visitar-me uma amiga da mamã e o meu pai foi ver mais casas para alugar e, depois de ter visto algumas casas onde poderíamos morrer de frio num dia de verão, em desespero de causa, foi de carro à procura de casas na zona do Hospital dos Covões.
No Sábado trouxeram-me um nariz de Palhaço que usámos à vez... na palhaçada!...
Passou de facto muito depressa. O tio Barbas, a tia das picas, a tia X, o meu primo mais velho, a vóvó Selinha... vieram todos visitar-me!... parecia um daqueles fins-de-semana na Covilhã. Passaram todo o dia comigo, o que foi uma sorte! Pusemos todos o nariz de palhaço, que ficava especialmente bem ao primo Henrique, e tirámos fotos para mais tarde gozar. Foi também neste dia que me trouxeram daquela sopa da avó de que eu gosto tanto. E eu comi como já não comia há uma semana! Não porque a comida do Hospital fosse especialmente má, ou porque eu tivesse muito pouca fome, mas a verdade é que me custava um bocadinho a mastigar, por causa da costura, e isso não ajudava muito... eu até gostava da hora da comida no Hospital porque havia sempre alguém que me vinha visitar. Lembro-me principalmente da Dona Alice, que me fazia umas caretas muito engraçadas, e que me ensinou a fazer OK ao contrário, com o polegar virado para baixo...

O Domingo foi o contrário do Sábado. A Dra. Margarida tinha dito aos papás que, uma vez que nos feriados não há altas, a minha ida para casa ia ser antecipada para a véspera do Carnaval. A vontade de voltar a casa, e o facto do Domingo ter sido o único dia em que não tive visitas tiveram um efeito de dilatação do tempo que não sei se o próprio Einstein saberia explicar... talvez o seu motorista soubesse... a verdade é que só com muito custo, e com muita reposição dos adesivos os meus pais conseguiram manter-me o capacete na cabeça... só à custa das suas espondiloses, escolioses e lordoses me conseguiram segurar enquanto eu calcorreei todos os corredores dos Covões... e só à custa de muita paciência conseguiram fazer-me dormir, comer, vestir-me e dar-me aquele antibiótico que sabia a peixe com açúcar... admito que não me portei especialmente bem mas, se pensarem que estava fechado dentro dum hospital, há uma semana, sem poder gatinhar, e sem poder brincar à vontade, até se pode dizer que não fui muito exigente!

Na segunda-feira a Dra. Margarida cumpriu o prometido (eu também tinha cumprido a minha parte) e mandou-me embora, para casa! Fizeram-me um capacete novo, limpinho, e lá fui eu de volta a casa para passar o Carnaval em Lisboa. Decidi mascarar-me de múmia,,, o disfarce já estava meio preparado!...

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